Migrações e mobilidade do ecúmeno | SORRE, Max.



Resenha: SORRE, Max. Migrações e mobilidade do ecúmeno

Prof. William Poiato





Ecúmeno
Área geográfica que é permanentemente habitada pelo homem,
a palavra também é ligada à totalidade


Max. Sorre foi um grande geógrafo francês , falecido em 1964, traz em suas obras uma tentativa de aperfeiçoamento do conceito de ‘gênero de vida’ de Vidal de La Blache, para tal ele tenta associar os estudos da dita ‘geografia física’ à ‘geografia humana’ à partir de uma sofisticada base conceitual.

Associada à esta base existe a noção de ‘ecúmeno’ que o autor ira resgatar da filosofia grega que ganha em sua base teórica a noção de ‘área de extensão do homem’, ou seja, seu habitat – que associada à as capacidade de ação sobre o espaço torna-se- sua ecologia, como demonstra em seu texto “migrações e mobilidades do ecúmeno” que analisaremos a seguir.

O texto de 1955, traduzido por Januario Francisco Magale- geógrafo que discutiu, entre outras coisas, a história da geografia- em 1984 traz uma estrutura de nove subtítulos, listados em: 1-“Sobre a definição de migrações”; 2- “O ecúmeno e suas estruturas”; 3- “Permanência e mobilidade”; 4- mobilidade do ecúmeno e migrações; 5- “Graus de mobilidade e habitat”; 6- “Casos-limite de mobilidade geográfica máxima’’; 7- “mensuração da mobilidade: Estrutura e volume das migrações”; 8- “mensuração estatística das migrações contemporâneas” e 9-“Variabilidade das mobilidades”.






Como o subtítulo já nos anuncia a primeira parte do texto, denominada “Sobre a definição de migrações” o autor ira nos trazer algumas migrações segundo as concepções de sua época- algumas das quais ele lança mão e outras que rechaça. Entre as principais concepções ele prefere privilegiar as de maior simplicidade afirmando que em sua época as migrações são pensadas como ‘movimento de mudança de moradia’ ou seja, é um termo muito amplo, mas que estava sendo restringido dentro do corolário das ciências humanas, aborda algumas tentativas de se criar uma definição dentro do direito internacional para os migrantes, chegou-se à partir da Bureau Internacional do trabalho ( hoje Organização internacional do trabalho- OIT) define entre 1920 e 1938 o migrante era aquele que estabelece “deslocamentos internacionais por certos períodos temporais” eles consideravam aquele que se deslocou por mais de um ano para outro país como migrante permanente, já o migrante provisório reside naquele que descolar-se por mais de um mês em outro país. Sorre destaca também, a natureza da migração que era um fenômeno de difícil precisão pelos métodos grosseiros de apreensão das estatísticas internacionais, que possuíam até algum padrão, e no interior dos Estados- problema ao qual ele da alguma atenção durante o texto.O tópico termina com o que será a principal tese do texto e será explicada a seguir, onde afirma “as migrações são a expressão da mobilidade do ecúmeno”.



No subtítulo a seguir denominado “O ecúmeno e suas estruturas” onde o autor defende que a ideia de ecúmeno seria uma das ideias mestras da geografia, sendo esta geografia para os de sua época uma “descrição explicativa da terra e daquilo que a encerra” mas o próprio autor supera a seguir esta definição pensando a geografia como “ a inteligência diante das coisas,um estado de espírito” diante da paisagem –neste ponto o geógrafo se apoia em Mackinder- sendo esta paisagem um recorte de privilégios do pesquisador, Sorre se contrapõe a isso e diz que a geografia humana vai visar as relações ‘homem-meio’, ou seja entender o habitat humano, a construção do ecúmeno – como a totalidade de sua extensão -, ou seja, no limite, a geografia humana é a ecologia do homem -o que subentende que pode dispor da mesma episteme que outros estudos ecológicos.


Na terceira parte do texto o geógrafo francês contrapõe duas ideias, que para ele estão em um embate para entender a ecologia, a ideia de permanência e mobilidade ligadas as explicações ecológicas e históricas. As explicações ecológicas por procurarem um pertencimento das espécies a habitat específicos e sua adaptabilidade ao mesmo se associam a ideia de permanência, já as explicações históricas dos ambientes ao mostrarem seu movimento de transformação na luta pela sobrevivência mostram a noção de mobilidade (que se apresenta em estudos migratórios também), todos estes sinais se apresentariam também nas migrações humanas.





fazendo alusão ao movimento permanente da realidade


Em seguida o autor tenta dar um fechamento a alguns pontos em aberto no texto e mobilizar novas inquietações aos conceitos de ecúmeno e migrações em um tópico denominado “mobilidade do ecúmeno e migrações” seu principal argumento é que a noção de permanência é uma grande ilusão, que a única coisa que se pode ver no ecúmeno é a mobilidade, assim como na ecologia devemos atentar para grandes escalas temporais e perceber que os seres humanos estão em toda a trama histórica em movimento e maior ou menor grau (os graus de mobilidade serão discutidos a seguir).


Na quinta parte do texto o autor debate “os graus de mobilidade e o habitat”, ele nos afirma que o estudo do habitat humano, ou seja, de onde o ser humano se estabelece demonstra que o equilíbrio dos grupos humanos com seu meio ( a permanência) são apenas lapsos temporais, que as sociedades estão o tempo inteiro mudando-se total (o meio não a sustenta mais) ou parcialmente(cria-se um excedente populacional que migra),ou seja, ”a permanência é uma ilusão o que existe é a mobilidade”, para tal, como prometido, o autor coloca os graus de mobilidade em escalas como : Migrações periódicas ou sazonais (que implicam a saída de parte do grupo que retorna ao ponto inicial); migrações permanentes (Sob pressão do habitat o grupo inteiro migra para alcançar novos habitats e se estabelecer em novos locais) e existem (além destes já pensados pelo Bureau Internacional do trabalho como dito no primeiro subtitulo) um grau máximo de mobilidade, um migrante nômade que não possui residência fixa este é o caso limite que ele avalia no antepenúltimo trecho.

“Casos-limite de mobilidade geográfica máxima” é o título dado ao trecho onde o autor irá avaliar o caso limite de mobilidade que foge a sua construção teórica (migração enquanto necessidade pelo do desequilíbrio homem-meio em um determinado habitat) estes grupos que compõe a mobilidade máxima, apesar de grupos, migram por suas características e motivos individualizados, alguns segundo o autor são – segundo a gíria americana- bum, reproduzindo o termo do autor, vagabundos sem eira nem beira, os tramps que são trabalhadores de fronteira (temporários) e os hobo que são trabalhadores cronicamente desempregados, somam-se à estes estereótipos povos como os curdos e ciganos. Tentando construir uma explicação para estas migrações o autor apela para seus estereótipos básicos, típicos dos anos 50’ quando texto foi composto. Ele carrega a tese que o estado de mobilidade máxima, apesar de se tratar de coletivos mantém-se atrelado à decisões individuais destes coletivos, não relacionadas ao meio.



Feita esta abreviação sobre a mobilidade enquanto única realidade no ecúmeno e dos graus de mobilidade o autor retorna aos problemas de mensuração estatística em subtítulo chamado “mensuração da mobilidade: Estrutura e volume das migrações” para o autor o método estatístico de sua época acontece em função do volume de migrações e deve medir as migrações internas e internacionais, o fato dos indivíduos mesmo isoladamente migrarem para destinos em comum traz a possibilidade de medição deste dado (ainda pouco inferida) e alerta que deve-se caminhar para um padrão mundial estatístico para examinarmos as estruturas migratórias.

A oitava parte do texto ele mantém os comentários acerca das bases estatísticas. Em “mensuração estatística das migrações contemporâneas” o autor vai nos falar dos esforços despendidos sobre uma padronização das estatísticas, aponta que existe um princípio grosseiro de aproximações de dados de migrações internacionais, mas que os dados de migrações internas dos Estados ainda apresentavam graves problemas comparativos.

Finalmente, o autor termina o texto com o título “Variabilidade das mobilidades” onde ele sugere que temos de superar as explicações descritivas e dedicar-se desta vê aos impulsos migratórios voltados ao habitat seus excedentes e possibilidades em busca de equilíbrio.

Temos aqui um ótimo texto para exemplificar o desenvolvimento do pensamento geográfico e do levantamento de dados que já sinaliza que o tema migrações acabaria irradiando-se pela via descritiva dos demógrafos e explicações sociais dos sociólogos, motivo pressuposto para a proposição teórica de M. Sorre que visava uma geograficidade ao tema.


Referencias bibliográficas:


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