Migrações internas: Considerações teóricas sobre o seu estudo | Singer, Paul

Resenha: Singer, Paul - Migrações internas: Considerações teóricas sobre o seu estudo
Prof: William Poiato







Paul Singer é um renomado economista, nascido em 1932 na Áustria, vem com sua família ao Brasil com oito anos de idade, líder sindical nos anos 50’, se forma na Universidade de São Paulo(USP) em 1959 em ,sua especialidade, economia. Além disso se formou em Princenton (EUA) nos anos 60, fez parte da fundação do partido dos trabalhadores, da secretaria de planejamentos do município de São Paulo, ajudou a criar a ‘incubadora de cooperativas populares da USP’, além disso à partir de 2003 é secretario de ‘secretaria nacional de economia solidaria’. Hoje além de atuar na esfera do governo federal Singer também é professor na pós graduação da USP.


Este ilustre economista tem entre suas obras o titulo ‘Economia Política da urbanização’, livro este que possuiu a sua 14° edição em 1998, nele esta contido o capitulo ‘migrações internas: Considerações teóricas sobre o seu estudo.’ texto que iremos debater nesta resenha.

O texto de Singer pretende debater o tema das migrações partindo do pressuposto que as migrações são historicamente condicionadas pelas relações objetivas e subjetivas da sociedade, esta afirmação o leva a crer que existe de tipos historicamente definidos de migrações condicionadas pela industrialização, tal interpretação faria derivar o processo migratório do próprio processo de industrialização, o autor nos lembra de também que o processo de industrialização se diferencia de lugar para lugar e que existem três tipos básicos de industrialização, a revolução industrial ‘original’ aos moldes do modelo inglês, a industrialização dos países de economia planificada e a industrialização tardia das ex-colônias e que cada uma delas talvez nos condicione para algum tipo diferente de fluxo migratório.

O capitulo esta organizado em sete partes : “industrialização e migração”; ”Capitalismo e migração”; ”Capitalismo desenvolvimento regional e migrações internas”; “As migrações internas face ao mercado de trabalho”; “Migrações e industrialização nos países não desenvolvidos”; ”Migrações internas e desenvolvimento” e, por fim, “proposições para o Estudo das migrações internas”; que iremos explorar a seguir.



A primeira parte do texto intitulada ‘’Industrialização e migração’’ inicia tentando definir o processo de industrialização/urbanização dando algumas características do processo, o subtítulo nos lembra que a industrialização tem a tendência de se aglutinar no espaço, para tal se utiliza das redes de logística e comunicação presentes e maximizam o seu uso, tal tendência parece se emaranhar com a tendência da industrialização ocorrer geralmente em cidades que já possuíam alguma rede comercial, e que se aproveita desta população inicial para seu processo que se readapta e se rearranja. É importante pensar a noção de aglutinação segundo Singer que lembra que o comercio de alguma expressão traz a indústria, que aumenta o comercio, que recria a infraestrutura, o que propicia novo investimento industrial e assim sucessivamente.





Dica de livro que conta com mais detalhes como o protecionismo desenvolveu as nações Europeias e Norte americanas e como hoje isso é vetado às nações menores, os países desenvolvidos subiram na escada da proteção de mercado e hoje a chutaram para que mais ninguém a utilize.* (link nas referencias) 


A parte seguinte é denominada “Capitalismo e migração “e tenta evidenciar no inicio do texto o papel das politicas protecionistas no inicio da industrialização das grandes potencias na sec. XIX e a necessidade-apesar da pressão internacional contra- dos países que irão passar por este processo de forma tardia implantarem o que ele chama de ‘manipulação de preços’ pois a industrialização não é projeto de um empreendedor mas da nação, porém esta necessidade seguida por todos os países que se industrializaram coloca o Estado no papel de auxiliar no processo de acumulação e concentração de capitais, se pensarmos a industrialização como um ‘aumento técnico’ este processo de melhora anda de mãos dadas com o acumulo e concentração de capitais. Já dissemos que a urbanização é um processo aglutinante de estruturas, esta aglutinação acontece por conta da tendência supra citada nas cidades, ou seja a urbanização aglutina capitais, técnicas e pessoas quem vem para este ponto , as camadas com capital ficam nas áreas abastadas da cidade e as sem capitais são jogadas as margem das cidades.






A terceira subdivisão é denominada ”Capitalismo desenvolvimento regional e migrações internas” e tenta discutir como as desigualdades regionais causadas pela industrialização causam a migração. Sua argumentação parte da noção de ‘empobrecimento relativo’, ou seja, as regiões empobrecem em relação à aquela que enriquece/urbaniza, como já dissemos a urbanização se da por auxilio do Estado-logo o empobrecimento também- criando uma espécie de colonialismo local, de locais empobrecidos de fornecimento de material base e outros de indústria e revenda. Neste ponto amadurecem no primeiro ponto os fatores de expulsão,eles são opostos, o primeiro ligado à industrialização e mecanização da produção e o segundo à agricultura, estes fatores são os de mudança e de estagnação.


Os ‘fatores de mudança’ estão ligados ao processo de entrada capitalista no campo, a nova concentração de terras e relações de trabalho –o autor toma o clássico exemplo dos cercamentos ingleses- expulsam parte da população local que migra para a cidade, outro fator para a liberação desta mão de obra podem ser implementações técnicas que mecanizem a ´produção e expulse a população camponesa antes necessária oque diminui a concentração demográfica rural, fazendo a cidade sequestrar o crescimento vegetativo desta população para si também-migram aqueles desempregados e sem-terra, além dos jovens do campo. Este fator então expulsa a população rural para a cidade a partir de uma capitalização do espaço – cercando e comprando a terras ou melhoramento tecnico- o que diminui a densidade demográfica e aumenta a produtividade da terra.

Os ‘fatores da estagnação’ estão ligados à estagnação da vida e produtividade camponesa – empobrecida em relação a cidade- que decaem a produtividade – geralmente em minifúndios cercados por latifúndios- se tornam ‘viveiros de mão de obra’ ara estas grandes propriedades rurais em migrações sazonais, geralmente possuem alta taxa demográfica e poder de mobilização politica, que colocado em movimento tira do Estado ‘projetos de desenvolvimento regional’ com os excedentes de capital que o capital adquire nas cidades, que as transformam em locais de mudança e alimentam a migração para as cidades.

Ou seja, desenvolvimento regional cria novos polos de desenvolvimento que criam os fatores de mudança responsáveis pelas migrações.





Assim como o autor debate os fatores de expulsão, no trecho que cuida de ’’ as migrações internas face ao mercado de trabalho “ele ira tratar dos fatores de atração, um destes fatores é a demanda por força de trabalho( das industrias e dos serviços) o que criam ‘’oportunidades econômicas” aos migrante, porém existem diversas barreiras como a qualificação profissional, cultura e até mesmo processos de endividamentos, não atoa por vezes o migrante não é absorvido simultaneamente pelo mercado mas passa por um processo de aculturamento antes. O autor ressalva que nada garante que o numero de vagas e de migrante sera o mesmo, pois a migração depende de fatores de expulsão do campo e não da atração da cidade, a demanda por trabalhadores dependera do processo de urbanização, porém estes processos se ligam pois o capital no campo (que expulsa às pessoas para a cidade) tende a consumir da cidade criando consumo, maior produção, mais trabalho necessário, apesar deste volume não estar garantido a tendencia é que com o tempo – isso cria para os países desenvolvidos o quadro da urbanização/industrialização com o keynesianismo-.

A quinta parte do texto nos fala das “migrações e industrialização nos países não desenvolvidos”, o primeiro problema colocado pelo Singer é que os países de industrialização tardia sentem os efeitos da industrialização de forma mais avassaladora que os primeiros, pois enquanto os primeiros vão sedimentando o processo aos poucos os não-desenvolvidos implantam de uma só vez setores inteiros da economia , submetendo a estrutura econômica a choques diretos e fomentando os fatores de mudança, o impacto aumenta pelo fato de parte da população estar ligada a uma economia de subsistência, oque massifica as migrações inclusive as migrações ‘campo x campo’ quando se deparam com a estagnação e a ‘campo x cidade’ para os fatores de mudança muitos mais ativos, nos países sub-desenvolvidos existe o afluxo migratório, fatores como o envio do salario do migrante para a família pode gerar afluxo, assim como a propaganda daqueles que vão para a cidade e não absorvidos pelo mercado reproduzem lá suas relações de subsistências, além da absorção de parte da mão de obra nas áreas domesticas que deprimem o mercado(mantendo esta mão de obra fora das relações capitalistas propriamente ditas) o que atrofia o consumo e diminui o ritmo de industrialização.

No trecho seguinte denominado ”Migrações internas e desenvolvimento” Singer tenta fechar alguns conceitos, continua em defesa que a migração é um fenômeno historicamente condicionado, argumenta ainda que a cidade não absorve toda a mão de obra no terceiro mundo, a mão de obra vai se adaptando e entrando em novos cargos com o tempo, a cidade é inadequada por vezes para estas pessoas que tem de construí-la com suas próprias mãos formando os favelamentos. Singer destaca também que o mercado externo pode alimentar o ciclo citadino porém o mesmo só é equilibrado se pensar e voltar-se para o mercado interno.

Por fim, o autor propõe “proposições para o Estudo das migrações internas” ele vai propor um método de entender as migrações, entender as migrações como parte integrante de um processo de modernização para entender as causas não os significados das migrações, entender o por que das ‘levas migrantes’ e seus diversos tipos como as 'pos-explusão’ ou para acompanhar os familiares que já migraram, isso perde importância pois devemos entender as estruturas, entender os fatores objetivos e subjetivos e principalmente pensar uma classe social em movimento, nisso ele destaca como possibilidade de estudo a migração como processo social, as consequências desta migração interna , relação entre migração e ‘marginalidade’.

Observando a matriz conceitual que Paul Singer nos traz neste texto nos da um ferramental interpretativo importantíssimo para entendermos a migração enquanto movimento de uma classe social expulsa por questões materiais de um ponto do espaço e colocada em outro, migrando de campos técnicos e funções econômicas diferenciadas, onde o migrante tem de se aculturar-processo que hoje se repete nas cidades médias-.

Em outras palavras Singer nos traz uma visão estrutural enriquecedora para o debate das migrações brasileiras e mundiais.


Referencias:

Singer, Paul - Migrações internas: Considerações teóricas sobre o seu estudo in Economia politica da urbanização.14° ed. Revista – São Paulo, Contexto ,1998 p. 29-62



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