O voo das andorinhas: migrações temporárias no Brasil | MARTINS, José de Souza



Resenha: MARTINS, José de Souza: O voo das andorinhas: migrações temporárias no Brasil

Prof. William Poiato





José de Souza Martins nascido em 1938 em São caetano do Sul-SP, é professor aposentado de sociologia da USP, tem uma brilhante carreira acadêmica ao ser o terceiro estudioso brasileiro que ocupou a Cátedra Simón Bolivar da Universidade de Cambridge, quando foi também foi professor visitante da Universidade da Flórida e da Universidade de Lisboa, além de professor honoris causa da Universidade Federal de Viçosa. doutor honoris causa da Universidade Federal da Paraíba além de doutor honoris causa da Universidade Municipal de São Caetano do Sul.

O autor constrói sua carreira sendo conhecido como o sociólogo do campo, tem uma carreira marcada por uma virada ideológica, teórico da reforma agraria brasileiro desdo inicio de sua carreira, tem em 2000 um rompimento com a possibilidade de reforma agraria no país em sua obra : ‘’reforma agraria: o impossível dialogo’’.

A obra que iremos analisar é de sua primeira fase , quando os estudo do sociólogo ainda estavam comprometidos com os movimentos sociais pela terra e tenta à partir deles desenvolver uma leitura da realidade, dentro desta perspectiva analisaremos o segundo capitulo do livro “ Não há terra para plantar neste verão” em sua segunda edição publicada em 1988, o trecho que analisaremos se denomina ‘’O voô das andorinhas: migrações temporárias no Brasil’’.

O trabalho apresentado no seminário internacional de “migrações da América Latina” de 1984 organizado pelo Cenep, o sociólogo defende que as migrações temporárias tem uma perspectiva de diferenças não só de localização deste trabalhador mas de temporalidades, o migrante temporário não se desloca temporariamente apenas mas se transforma em dois , um de sua origem e outro adaptado para onde vai , porém não é só isso o fato de migrar transforma o migrante e o fato de ter de ir transforma seu ‘milieu’ social local.

A migração temporária não surge no censo, então o autor qualifica os trabalhadores rurais de forma qualitativa, pensando local de origem e atividade, ele enumera: 

a)Trabalhadores rurais migrando temporariamente para trabalhar na cidade 

b)Indígenas migrando temporariamente para trabalhar na cidade

c)Trabalhadores rurais migram nas entressafras para outras áreas rurais 

d)Trabalhadores assalariados são levados para diversos locais para trabalhos temporários ( relação do ‘boia fria’ com o ‘gato’)

e)Filhos de peões levados do nordeste para o sul e para o norte, fazendo trabalhos análogos à escravidão.

f)Trabalhadores rurais e urbanos levados para grandes obras

g)Camponeses que nas entressafras são garimpeiros.

Estas migrações formas três modalidades:

Migrações temporárias cíclicas: Trabalhos temporários sazonais de determinadas épocas do ano, geralmente ligadas à ciclos agrícolas ligadas as estações do ano, ligando o homem à diversas terras mas somente à um lar .

Migrações temporárias não agrícola: trabalhos temporários na cidade onde o camponês no entressafra trabalha na cidade, preso em duas temporalidades, a parcial do campo e a permanente do capital da cidade.

Migrações temporárias irregulares: Trabalhos temporários relacionados à eventos isolados , como por exemplo à grandes obras, separando o 'lugar do trabalho' com o 'lugar do não trabalho'.

A principal ideia trabalhada pelo autor é a ideia sociológica de ‘ausência’, como a ausência se torna presença nas relações no local que recebe e no local de partida, criando um eterno laço entre o migrante e seu ponto de partida. 

Outro ponto que o autor coloca é a função econômica da migração temporária que coloca uma relação curiosa onde a reprodução da força de trabalho se da em um meio e a acumulação e reprodução do capital acontece em outro, e o ponto de contato, aquele que evita esta assimilação deste pole de produção de trabalhadores é o migrante temporário que consegue com o pouco capital que consegue em seu trabalho manter aqueles para o qual ele produziu a ausência em seus respectivos lugares, mas que cria o seu contrario a preparação para a assimilação.

O autor ainda relata a repulsa do trabalhador pela alienação do próprio trabalho o caráter temporário, ou de ‘sempre retorno’ de sua migração mostra a sua ligação com o local de origem e sua repulsa pelas relações de produção capitalistas que o alienam de seu próprio trabalho e de sua própria mercadoria.

O divorcio entre “tempo de produção (tempo de produção de força de trabalho, de mais valia e de tempo de reprodução) e o espaço de produção (onde se materializa a produção de força de trabalho gerada fora do circuito de capital como trabalho para o capital)” cria uma ilusão de independência deste camponês ao capital, oque na verdade não coloca-o na sua posição no processo de proletarização do camponês periférico.

A leitura deste trecho auxilia o leitor à trazer uma compreensão sobre o processo de migração temporária que castigava a população brasileira em 1988 em seu processo de proletarização mas que ainda esta sumariamente presente, como nas grandes obras recentes, um texto sempre atual da melhor fase deste autor. 

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