Resumo: Silva, Gilvan Ventura | O fim do mundo antigo: uma discussão historiográfica
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Prof. William Poiato
Gilvan Ventura da Silva é doutor em História pela Universidade de São Paulo (Usp), mestre em História Antiga e Medieval, bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É Professor Titular de História Antiga da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e atual coordenador do Programa de Pós-Graduação em História. É editor de Romanitas, Revista de Estudos Grecolatinos e membro dos seguintes grupos de pesquisa: Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (Usp); Arqueologia Histórica (Unicamp); Núcleo de Estudos Mediterrânicos (UFPR); Serápis - Laboratório de Estudos do Mundo Helenístico-Romano (UnB); Cultura escrita e oralidade na Antiguidade e no Medievo (Uece); Estudos de gênero, discursos, religiosidades e uso e costumes do passado da Antiguidade Clássica à Tardia (UFPA) e ATRIVM - Espaço Aberto de Estudos Clássicos (UFRJ). É coordenador da seção ES do Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (Leir), desenvolvendo projetos de investigação acerca dos vínculos entre espaço, identidade, religião e poder na Antiguidade. Em 2014, cumpriu estágio técnico-científico na Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, no âmbito do Projeto de Cooperação Internacional Ufes/UMinho. Em 2017, atuou como Professor Visitante junto à Università Ca'Foscari (Veneza) no âmbito do Programa Erasmus Plus de mobilidade acadêmica.
O autor mergulha na "História Tradicional" o sec XIX é um marco importante, onde a história ganha método, vulto de importância e as universidades, o conhecimento histórico era tomado como o conhecimento das ações políticas (muito se falava das querelas e dissoluções de Estado, e claro, de grande estadistas). Duas escolas se abrem, o positivismo, estritamente empírico e o historicismo de fatos irrepetíveis entrelaçados em causa-efeito. Isso gera um esquematismo e periodismos da história, que reduzem seu entendimento. A "queda" do império foi a marca escolhida para a morte da antiguidade e inicio da idade média. Isso claro, jogou um pessimismo na própria Idade média, fruto da decadência, do descentralismo e portanto, considerada, idade das trevas, os renascentistas [1] e iluministas reforçaram esta visão. No séc. XIX a ideia de progresso ininterrupto trouxe Roma em voga, afinal sua queda era um recuo, o termo política decadência empregado demonstra isso, entende-lo era primordial. Para os homens da idade média e moderna a história era um movimento único de ascensão ou decadência, todas as coisas eram arrastadas neste movimento (inclusive ciências que possuíam temporalidades próprias tinhas dificuldade de se desenvolver). O apego à noção de uma história de fatos políticos, isolados, sem explicações estruturais e distante das outras ciências é um marco desta História Tradicional.
Em seguida ele enfoca "No limiar da ruptura" , os historiadores começam a criticar a noção positivista de História, afinal Comte (teórico do positivismo) nega a possibilidade de estudo cientifico da história, como os fenômenos não se repetem, não há leis gerais possíveis, portanto não existiria ciência (uma bobagem). Alguns tentam encontrar dentro do positivismo leis gerais e causa e efeito causais dos fatos históricos, outros tentam noção se limitar apenas a fatos políticos, falando (separadamente) de outros aspectos da vida social.
A crítica mais poderosa sobre a História Tradicional foram Marx e Engels, criaram uma "teoria global coerente das sociedades humanas, vistas tanto nas suas leis estruturais quanto nas suas leis dinâmicas ou de transformação". A história se afasta da impossibilidade de explicação e entra no campo da totalidade, se afasta da política apenas e entra na complexidade social, a história ganha inclusive uma postura sociológica ao os historiadores deveriam dedicar-se ao estudo de formas de organização social recorrentes ao longo da história. após a revolução Russa de 1917 ganha força a teoria marxista pela Europa, com uma história galgada na ascensão e superação de modos de produção. O autor afirma que o fechamento da sociedade soviética durante a segunda guerra (sob governo Stalin) atrapalharam o avanço historiográfico da transição da Idade Média à Idade Moderna, agora encarada como a queda de Feudalismo para o Capitalismo pela ingerência de Estado. porém, na década de 50' a pesquisa se torna mais livre.
escravo na cultura de azeitona |
Silva aponta o caminho trilhado "Para uma nova história" duas escolas se entrecruzam ara terminar de minar a escola tradicional, especialmente com a crise capitalista de 1929, a Marxista e a Escola de Annales, porém o impulso decisivo foi a segunda guerra mundial [2], ao demonstrar que aquela história tradicional não dava conta de explicar as transformações ocorridas. Propuseram portanto novas metodologias de análise e uma integração da história com outras ciências, os marxistas possuiam impeditivos políticos em quase todo lugar da Europa, porém os Annales (próximos aos primeiros) ganham entrada na universidade. Além da história global, outras temporalidades são exploradas (a exemplo de Marc Bloch) e a história passa a se expressar em diversos tempos e termos, Surgem as teorias de Fernand Braudel sobre a curta, a média e a longa duração, e a História forja para si ou toma das demais Ciências Humanas novas abordagens, objetos, métodos e técnicas.
Vision Of Cross- Rafael |
O Estudo de Roma passa a ser revisto neste contexto, a Civilização Clássica talvez não tenha acabado quando Rômulo Augusto foi deposto, nem mesmo apenas quando a mão de obra escrava foi substituída pelo colono (tese que tenho apreço), outras abordagens são possíveis.Por exemplo: Aqueles que defendem que as "Invasões Barbaras" ou seja, o momento onde em geral os germanos tomam controle das províncias com apoio dos antigos romanos ou dos "romanizados" marcam o fim da Civilização Clássica, recebem como contra-argumento: A Civilização era apenas a maquina política-administrativa?". Assim como a tese "Escravo-Colono" recebe: A Civilização era apenas um arranjo de trabalho? E assim sucessivamente.
Para sanar isso se criou o conceito de Antiguidade Tardia: O Fim do Mundo Antigo não foi decadente, mas a criação de novas concepções, organização social e valores novas concepções religiosas e estéticas, de novas invenções e técnicas artísticas que exerceram uma inegável influência sobre as civilizações posteriores, que possui de certa forma a fusão de valores pagãos clássicos, os valores cristãos e bárbaros que há de aprender-se a reconhecer em sua originalidade e a julgar-se por si mesmo.
Para sanar isso se criou o conceito de Antiguidade Tardia: O Fim do Mundo Antigo não foi decadente, mas a criação de novas concepções, organização social e valores novas concepções religiosas e estéticas, de novas invenções e técnicas artísticas que exerceram uma inegável influência sobre as civilizações posteriores, que possui de certa forma a fusão de valores pagãos clássicos, os valores cristãos e bárbaros que há de aprender-se a reconhecer em sua originalidade e a julgar-se por si mesmo.
Por fim o autor conclui:
"Quando confrontamos o conceito de Antiguidade Tardia com a realidade social do Baixo Império, permanece sempre a indagação sobre os motivos pelos quais uma civilização que possuía tantos elementos novos, vibrantes e originais não foi capaz, ao fim e ao cabo, de manter-se integrada como havia ocorrido por séculos. Nesse caso, parece-nos necessário reconhecer que a desagregação do Império Romano do Ocidente mediante a regionalização provincial e enfraquecimento do aparelho militar e burocrático estatal é um fenômeno de natureza política, uma vez que o Império era, acima de tudo, uma unidade político-administrativa que integrava em um determinado território mais de uma centena de províncias, as quais apresentavam múltiplas especificidades econômicas e culturais que não podem ser esquecidas.
Podemos dizer que a dissolução do Estado romano se encontra condicionada, em termos mais efetivos, pela inépcia do governo imperial em gerir os conflitos sociais que se apresentam no período do Baixo Império, e isso devido a uma série de fatores, como por exemplo a perda de autoridade por parte do poder constituído em virtude da indefinição das regras sucessórias e das ações perpetradas pelos imperadores com o objetivo de garantir a sobrevivência do Império, as quais descontentam importantes segmentos sociais. A seqüência de usurpações que verificamos ao longo dos três últimos séculos da História de Roma dá bem a medida do enfraquecimento do Estado imperial. Com isso, os indivíduos não se sentirão mais parte integrante de uma coletividade que outrora dominava o mundo, passando a se organizar mediante relações pessoais, sem a interferência estatal. Daí a difusão do patronato, instrumento de aglutinação dos indivíduos em torno de um grande proprietário, que desafia frontalmente o governo imperial."
Referências:
Silva, Gilvan Ventura. O fim do mundo antigo: uma discussão historiográfica. Rev. Mirabilia, Dec 2001 p.01-15
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