O Renascimento na Alemanha | ERWIN THEODOR

Resenha: O Renascimento na Alemanha ERWIN THEODOR
Prof William Poiato

Erwin Theodor Rosenthal (1926-2016) foi um germanista nascido em Frankfunt, professor de língua e literatura alemã na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, ensaísta e tradutor brasileiro, autor de várias obras sobre a língua alemã e a arte da tradução. Traduziu Martius, Lessing, Benjamin e Nietzsche. É doutor (1953) em Letras e Livre-Docente (1960) pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Foi professor titular (a partir de 1964) de Língua e Literatura Alemã e diretor da mesma Faculdade. Fundou o Curso de Pós-Graduação em Língua e Literatura Alemã da USP. Foi professor visitante da Universidade de Berlim, da Universidade de Lisboa, da Universidade de Colônia e da Universidade do Witwatersrand, em Johannesburg. Foi bolsista da Fundação Alexander von Humboldt e professor na Universidade de Tübingen. Desde 1986, era membro da Academia Paulista de Letras, da qual foi o 15º presidente (2003-2004). Foi também membro da Academia Paulista de História e da Academia Paulista de Jornalismo. Fez parte do Conselho Diretivo da Associação Internacional de Germanística e foi co-editor do Anuário Internacional de Germanística. Foi membro-correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.

Para Theodor não há uma separação ordinária entre Idade Média e Idade Modera, pois vários pensadores de um tempo de enquadram neste período de transição, outros nem tanto-como isso ele se refere ao renascentismo. O autor comenta que,  no sec. XVIII com iluminismo com certeza estávamos em outro momento, talvez (no caso italiano) iniciado no sec. XII com a volta da livre circulação de moeda e nova economia popular e o germe da burguesia. Muitos tentam fazer um contraste entre Idade Média e Idade Moderna, ainda falando de Itália, se fala em naturalismo como representação que rompe com transcendentalismo medieval, observação aparentemente equivocada, superlativa da realidade. Isso se dá pois os liberais ao descreverem o renascimento fazem dele sua arvore genealógica e relatem na descrição deste evento um grau de vitória do espírito libertador da razão e o triunfo do espírito individual. Algumas figuras de fato levantam este tipo de pensamento (os condottiere e os tiranos), porém parte do que é posto como estranho a medievalismo, não o era.

Para falar de um renascimento Alemão, o autor salienta o próprio renascimento como:
"Na Idade Média todos os desejos, esperanças e anelos encontravam-se fixos no Além, mas na Renascença procura-se captar o mundo real, palpável, e o processo de individualização progride cada vez mais. A ânsia de autonomia individual e comunitária supera o universalismo teocrático e hierárquico, sem dirigir-se, contudo, contra a Igreja ou o Cristianismo . A secularização caminha a passos largos e a emancipação do domínio da teologia verifica-se a olhos vistos . Ao mesmo tempo porém (ou exatamente por isso?) tem início o que poderíamos chamar a síntese do humanismo cristão, reunindo aspectos os mais diversificados dê-se grande movimento."
A história renascentista começa a ser escrita pelos próprios renascentistas e humanistas, que além de descobrir o mundo novo, parecem redescobrir a si mesmo , os humanistas alemães abrem alas para dois comportamentos dispares, a pesquisa histórica fundamentada em documentos. Ao passo que surge uma "história aventureira" cheia de invencionices, onde documentos pagãs são tomados quase como verdade absoluta, onde há mudança do que esta escrito na fonte e do que é citado. Modelos italianos são importados, assim como seus problemas e até algumas lendas, o que ficou conhecido como "cronicas históricas", a 'Crônica do preceptor dos Príncipes' é um ótimo exemplo, o autor reúne uma série de cronicas antigas as analisa cientificamente e reescreve esta. Se estabelece o Germanismo, a ideia que a 'migração dos povos' (invasão barbara) tem ligação direta com a revolução do ocidente, criando  um sentido da descrição histórica (posteriormente) anti-romanos, anti-eclesiásticos e anti-latinos.


Em Alsácia, pelo contato com renascentistas suíços e italianos e a influencia (e ameaça) francesa, forma-se outra corrente de historiadores, Encarava já então como dever preeminente a defesa das origens germânicas da Alsácia contra os opositores francófilos e franceses . Argumentando nesta linha tenta provar a origem germânica de Carlos Magno e as realizações culturais específicas da Nação Alemã, exemplo são os Epitoma Rerum Germanicarum (1505). Tal intento nacionalista ganha força com Maximiliano I (1459-1519), incentivador de uma história da genealogia e do império, vale desta entre outros o rico burguês de Nuremberge, Willibald Pirckheimber (1470-1530).



Daremos ênfase aos três mais destacados historiadores da época, segundo Erwin: Rhenanus, Aventinus e Vadianus.

a) Beatus Rhenanus (1486-1547): Natural da Alsácia, discípulo de Erasmo, escreve sobre assuntos de interesse alemão, procura o caminho justo da interpretação histórica dos fenômenos que distinguem o seu país, na busca da identidade alemã  e se detém especialmente na análise da evolução da Germânia de tradição romana à Alemanha, posterior à Invasão dos Bárbaros. No ano de 1531, após pacientes e cuidadosas pesquisas, resolve publicar os Rerum Gernianicarum tibri tres, em que se encontram (e são utiliza-das) todas as fontes que haviam sido descobertas até então para a interpretação da história da Migração do Povos e da época da Francônia.

b) Johannes Aventinus (1477-1534): Empenhado em escrever a história de toda a Bavária, o projetado "livro bávaro", que deveria participar dessa publicação não foi jamais escrito,mesmo assim coube a Aventinus, através de outras publicações, o mérito de introduzir a história de sua região no campo mais vasto da história alemã, chegou a ser preceptor dos príncipes e historiógrafo oficial,expulso após simpatizar co as ideias de Lutero vindo a terminar a sua vida na Cidade Imperial de Regensburgo.


c) Joachim von Watt, chamado Vadianus (1484 e 1551): Estudou em Viena, nomeado pelo imperador "poeta oficial", volta à sua cidade em 1518 . De 1526 até a sua morte, 25 anos depois, foi prefeito da tradicional comunidade, onde introduziu a nova religião, opondo-se à influência do famoso Mosteiro. Escreveu a Grande Crônica dos Abades de São Gall, tentando tratar cientificamente dessa história de uma "organização política", conforme a vê . Sua posição como protestante e representante de uma burguesia progressista tornava desnecessários certos cuidados, que tradicionalmente se devotavam ao mosteiro e à sua evolução. 

Foi a região das cidades imperiais, Viena e Praga, além de Nuremberg, cenário do mais im-portante desenvolvimento artístico da época:

  • A "escola naturalista" nos Países--Baixos, sob a orientação dos irmãos Hubert e Jan van Eyck

Van Eyck |  O Casal Arnolfini, 1434



  • O Leonardo da Vinci (falecido em 1519), inspirara os grandes representantes alemães da pintura dessa época: Albrecht Dürer (f. 1528) e Hans Holbein, o Jovem (f. 1541).

 Triste est omne animal post coitum |  Albrecht Dürer


  •  Em Nuremberga, aos desenhos delicados e esculturas de Veit Stoss e as esculturas de Adam Krufft. Juntamente com Dürer e Holbein representavam o que havia de melhor no campo da pintura e escultura na época

Painel Central do Tríptico na Catedral de Bamberg, Alemanha |  Veit Stoss

Na literatura humanista procedia do sul do país: Em 1450 o funcionário municipal Nikolaus von Wyle começou a traduzir obras diversas dos humanistas italianos, trabalho tornado mais perfeito com adaptações de Heinrich Steinhõwel, de Ulm, e Albrecht von Eyb, de Bamberg, etc. Este período- das adaptações- dura de  1500 à 1525. O autor comenta: 

"Essas obras, entretanto, vieram a expressar um sentido novo da vida, uma concepção de humanitas, tal como deduzi-da das obras de Platão e Cícero. Assim como os historiógrafos, rejeitavam os autores literários a Igreja como detentora exclusiva (ou pelo menos suprema) da sabedoria"

O Artista escrevia em linguá  latinizava ou helenizava, inclusive o próprio nome, imprima com a prensa de nurenberg, tinha inclusive desenhos. mesmo assim, uma batalha intelectual literária se travou entre novas e antigas ideias. 

For desta rota e um grande influenciador da historiografia, arte e filosofia Erasmo de Rotterdam  orientou diversas universidades tendo a basileia como principal centro defendeu em estudo do Novo Testamento um Cristianismo tolerante e generoso (texto que Lutero usou) foi filólogo e escritor seu Elogio da Loucura (1509) é uma sátira engraçada, espirituosa, da preguiça mental. De inicio estava com os reformistas, porém rompe com eles por não defender a separação total.


Entre outros vale destaque também Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1494-1541), filósofo e médico, conhecido pelo pseudônimo de Paracelsus, capaz de imitar modelos romanos ou autores medievais de um modo que lhe garante uma posição única entre os humanistas. Insistia no experimento científico e na observação pessoal, inclusive exigia um exame, quase, clinico de seus clientes; além disso foi um neoplatonista, literato em latim, escreveu obras bastante originais.

Entre os poetas o mais ousado era o holandês Jan Everaerts (t 1536), com pseudônimo Joannes Secundus. Além dele o tema do amor ressurge com Celts (t 1508) sob o título Amores, verdadeira homenagem à volúpia. Existiam ainda os poetas neolatinos, que escrevendo nesta linguá descreviam a natureza e grandes cidades alemãs, chegavam a escrever grandes epopeias.

No teatro humanista alemão, o povo começa a participar das conquistas culturais. Vemos assim uma das distinções entre esse movimento e o Renascimento em geral, cuja elite cultural se segregava do povo e se preocupava em produzir trabalhos exclusivos. Esta característica tem um ponto chave e contraditório: O Latim! ao escrever as peças em latim clássico, por mais que fosse distante do latim eclesiástico, se aproximou do povo, ao menos de uma camada média. Esta formou uma espécie de vanguarda que difundiu-o pelo povo nos séc. seguintes.


Por fim, o autor resume sua visão do renascimento Alemão, voltando ao dilema inicial, citando Fritz Strich,
"É um espírito exigente, cujo ideal é exatamente atingir aquilo que a natureza não lhe conferiu espontaneamente. Ele não possui a compreensão natural da beleza, tal como existente entre os Antigos e seus herdeiros mediterrâneos. Assim surge a profunda distinção entre o Renascimento alemão e o italiano. Se o renascimento faz, na Itália, re-nascer a Antiguidade, verifica-se isto de acordo com a propriedade de um mesmo sangue, de conformidade com a mesma natureza, da qual surgira a cultura antiga e da contemplação sempre viva da arte antiga, existente em inúmeros monumentos em toda a península. Assim, pode falar-se realmente de um Renascimento nacional. Na Alemanha, entretanto, não pôde surgir de acordo com os mesmos pressupostos. Aqui constituiu um feito nacional de uma classe específica, que demandava a regiões novas, ignotas, a serem descobertas por meio de especulações filosóficas, típicas do espírito fáustico alemão. Não era, portanto, um renascimento da própria natureza nacional, mas sim um nascimento, verificado pelo anseio por Helena, símbolo da beleza antiga."


Referências: 



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