A Segunda Guerra e o Brasil
Prof. William Poiato
militar brasileiro durante treinamento na 2° guerra
1. Da paz Armada a Segunda Grande Guerra
1.1 A Segunda Grande Guerra
O final da primeira guerra mundial foi um período de trauma para toda a Europa. Por toda parte as famílias tentavam se reorganizar, a economia crescer, as cidades se reconstruir, etc. Porém, para os países derrotados da primeira guerra as condições da derrota (psicológicas e objetivas) ascenderam devastadoras crises políticas, os movimentos políticos ( a direita e a esquerda) se organizavam, porém aqueles com maior apelo aos trabalhadores estavam crescendo, o que convencionamos chamar de fascismo e o comunismo ganham força em toda a Europa, os valores liberais estavam se despedaçando.
Entre 1918 e 1939 a pressão advinda do exemplo russo, que a esta altura já era soviético e socialista leva a grandes mudanças institucionais na Europa, Ásia e África. Em especial na Europa, grandes movimentos populares conquistam junto ao seus estado benesses que irão fundar o "estado de Bem Estar Social", associado ao Reino Unido, França, os países derrotados adotaram o fascismo como forma de política autoritária que "limpasse" os comunistas do país.
Os sentimentos irracionais de apego ao passado, vingança, patriotismo e humilhação deram força ao fascismo nos países derrotados ou que passaram por um empobrecimento rápido, os principais exemplos são Alemanha nazista (1933), a Itália Fascista (1922), Portugal de Salazar (1932), a Espanha de Franco (1938), ou na Ásia o Japão Showa (1930), etc.
Na outra ponta, os EUA colhem os louros da guerra, enriquecendo rapidamente tiravam a Europa do centro das relações econômicas do período e colocavam a si mesmos, em um mundo com as moedas cunhadas com lastro em ouro, os EUA já possuíam metade do ouro do planeta, e inicia a política de centrar as vendas internacionais no dólar.
O crescimento rápido entre 1918 e 1928 levam a um número enorme de investidores de todo o mundo a investirem na bolsa de valores americana, apostarem em suas empresas e em sua lucratividade, um setor altamente desregulamentado em um país que de certa forma era o grande protetor do liberalismo no mundo, leva a formação de uma grande bolha, "havia dinheiro demais e lucros de menos" da noite para o dia bilhões de dólares desapareceram, os EUA vão a quase barrocada com o resto do mundo no seu encalço, todo o sistema bancário americano e Europeu estava comprometido, esta foi a crise de 1929, o crash da bolsa. Sendo superada apenas na década de 1930 com o New Deal (idealizado por keynes), que coloca na mesa uma quarta força, países capitalistas com mecanismos de intervenção econômicos na demanda, o Estado de Bem Estar Social ganha força.
Este é mais um ingrediente para o descrédito do liberalismo, que apela para teses conhecidas posteriormente de keynesianas, isso acelera o processo de formação destes estados fascistas e da forças também ao campo socialista que se apresentava a partir da URSS. Esta geopolítica cria alguns anos de "paz quente" onde os regimes fascistas criam diversos factóides de desconforto internacional entre as nações, inflamando ânimos, ao passo que as nações se armavam e preparam acordos de não agressão (vide o acordo entre Alemanha e URSS) e de aliança (vide uma reedição da tríplice Entente, agora sem a Rússia).
A Alemanha Nazista procurou se recolocar no cenário internacional, após uma conferência em 1938, consegue autorização para anexação dos Sudetos, levado a cabo no ano seguinte, isso possibilitou a organização de tropas alemãs e alertou para a possibilidade de guerra, os soviéticos fazem um acordo de não agressão no mesmo ano, a fim de manter a neutralidade no conflito, em 1939 a Alemanha invade a Polônia, em apoio seguido pela URSS, o expansionismo tomou parte da Escandinávia e dos países baixos para ter acesso a França, estava inaugurada a guerra.
Aos poucos se formaram dois blocos de países, os Aliados (liderados por Inglaterra, URSS, França e Estados Unidos) e Eixo (Alemanha, Itália e Japão ). Vale frisar alguns detalhes, os EUA alimentavam uma profunda política anticomunista assim como o Reino Unido de Churchil, porém em algum ponto da guerra algo ficou claro, o projeto iluminista, de valores e direitos universais, estava em perigo diante do avanço do fascismo, a aliança de liberais e socialistas (conhecida como frente ampla). Mesmo após o expansionismo inicial do regime socialista.
Durante todo período inicial da guerra, as forças do eixo tiveram grande sucesso em anexar territórios, Japão toma a Manchúria e esta em conflito com a China, a Alemanha Norte da França, Iugoslávia, Polônia, Ucrânia, Noruega e territórios no norte da África, a Itália dominava a Albânia, Etiópia e Líbia. Vale lembrar que as atividades dos outros países iniciam em 1936, sendo a Alemanha a primeira a agir em território Europeu e com grandes intervenções de outros países.
Em 1941 as coisas param de funcionar para o eixo, duas operações audaciosas são tentadas, a invasão da URSS e a o ataque do Japão a ilha de Pearl Harbor, ano portanto que os alemães sem saber penhoram ¾ de suas tropas em um único fronte e que os Japoneses traz os EUA para o campo dos aliados. Em 1942 a ofensiva contra a URSS chega até a capital do país, Stalingrado, o bloco de países liberais não intervieram no front leste, tendo a URSS de iniciar um contra ataque sozinha, o Japão para o seu avanço marítimo em direção a Austrália. A batalha de stalingrado se desenvolve, os soviéticos tem uma vitória difícil, a custa de um número tremendo de militares, o contra-ataque do leste ficou conhecido como marcha a Berlim, pois a partir desta vitória os soviéticos venceram batalha a batalha até chegarem a Berlim, no front oeste, os americanos e Ingleses pararam o avanço fascista.
A batalha foi um lento desarmar do eixo nos próximos três anos, a URSS cerca Berlim enquanto EUA e Reino Unido avançam no eixo Oeste, em 1945, ocorre o dia D e a Alemanha se mostra desarmada, em poucos meses pedem rendição, na batalha marítima os EUA começam a tomar ilhas japonesas, a relutância a rendição japonesa leva os EUA em uma demonstração de força ( e um sinal que não conseguia mais levar a guerra de forma convencional) lança as bombas atômicas, forçando a rendição japonesa e o fim da segunda guerra.
Foto de vitória da URSS
A guerra não só foi a que mais matou na história, mas foi uma guerra de desenvolvimento científico onde as nações e tornaram vulneráveis a projéteis explosivos, tanques, etc. As zonas de guerra se transformar cada vez nas zonas civis, os bombardeios são parte da paisagem, o processo iniciado em 1914 se aperfeiçoa aqui, temos uma nova forma de guerrear e um novo equilíbrio estabelecido entre as nações.
1.2 A era Vargas
Foto: Getúlio Vargas
O Brasil neste contexto da década de 1930 tem sua própria solução ao avanço do movimento socialista, a perda de legitimidade da república, além da extensa crise do café que se arrasta a mais de uma década, a ditadura protofascista que ficou conhecida como varguismo.
Não existiram anos tranquilos na década de 1920. Em 1924, acontece o Levante Tenentista de São Paulo, enquanto Luís Carlos Prestes e Siqueira Campos iniciam também um levante. Ao se encontrarem, esses movimentos ficam conhecidos como Coluna Prestes; ela se dispersa em 1927, mas arregimenta forças com alguma capacidade de enfraquecer a República. Isso, somado com a instabilidade da crise de 1929, dá espaço ao movimento da Aliança Liberal de Getúlio Vargas. Assim, após um processo conturbado, a cúpula militar se levanta e a chamada “revolução” acontece em 1930.
Em 1931, diversas marcas do governo ditatorial de Getúlio Vargas se mostram em sua face nua e crua: o Ministério do Trabalho é criado, a tomada pelo Estado (compra) dos estoques de café invendáveis, com intervenção direta contra a expansão da produção (o que abriu espaço para a produção de algodão e para a industrialização), além de diversas medidas modernizantes como a reforma da educação (médio e superior), a centralização do poder (seguindo a tendência mundial) e outras medidas polêmicas, como a suspensão do pagamento da dívida pública até 1934.
Vale lembrar que o processo varguista de transição de uma economia agrária exportadora para um polo industrial em São Paulo não foi um processo livre de contradições. Vargas fez o Estado garantir o consumo e o preço do café por diversas políticas. Como o caso a queima de café após o crash da bolsa em 1929, que cortou o consumo de café, mercado que o Brasil já possuía 60% a nível mundial – ao mesmo tempo em que fomentou a industrialização pelas mãos do Estado com a criação das empresas estatais.
Este Estado, relativamente autônomo, tomaria esta tarefa para si – vale lembrar que, apesar do longo processo de industrialização que passa São Paulo, o Estado sempre foi oposição a Vargas
Logo, o Estado tomaria para si o processo de modernização e de revolução burguesa e criação de um
capitalismo enquanto relação social no país. Vale observar a pequena periodização da industrialização
nacional feita abaixo:
a) Exportadora: (1500-1850) modelo exportador, que não permite uma economia forte; é dominada pelo capital mercantil.
b) Industrialização restringida (1850-1930): neste período existe uma indústria restringida por se tratar de produtos de consumo de massa, com baixa qualidade e é dividida em dois períodos – até 1930 e a partir de 1930 – em que a acumulação acontece pela expansão industrial, mas é restringida, pois não produz indústrias que produzem meios de produção.
c) Industrialização pesada:(1930-1960) implicou em um crescimento acelerado da capacidade produtividade de setor de bens de produção e do setor de bens duráveis antes de qualquer expansão previsível de seus mercados.
Pensamos aqui então na década do período de industrialização restringida, ou seja, a transição entre a economia agrário-exportadora para a economia de industrialização restringida, marcada por dois períodos, um até a década de 1930 de uma indústria de volume – pela demanda de uma classe assalariada – e posteriormente, como não podia deixar de ser, um projeto de surgimento da indústria de base marcado pelo Estado varguista, ou pela criação do Estado moderno (burguês industrial), concentrado em São Paulo.
O Brasil na segunda guerra mundial passou por uma anedota que o marcou, se as pressões externas fizeram o país se modernizar (pela falta de demanda pelo café neste período bélico), e a facilidade de tecnologias advindas do eixo entraram no país, afinal o antigo maquinário, substituído nestes países (em especial a Itália) cai de preço e possibilita o investimento em tal área pelo Estado Brasileiro, o Estado Novo (1937) coloca no Brasil toda uma ordem legal próxima da Itália Fascista.
Porém, o Brasil se colocou enquanto Estado neutro, tinha relações econômicas pendentes com o Reino Unido e EUA, além de ter sido apoiador da Entente na primeira guerra, isto possibilitou que o Brasil tivesse uma posição sólida na neutralidade. Até que já na década de 1940, o Brasil assinou uma carta de defesa atlântico, que colocava em defesa qualquer país atacado no continente, (política típica do Brasil ter acordo com as duas frentes), a partir de então os navios militares e comerciais do Brasil começaram a ser torpedeados por submarinos americanos, após meses desta movimentação e um acordo econômico favorável com os EUA (de construção da CSN) o Brasil entra na quadro dos aliados.
A grande anedota desta história é que Vargas em dado momento disse que "só iria para guerra quando cobra fumasse", fala que ficou famosa na época, acabou se tornando o brasão extra oficial do exército- uma cobra fumando um cigarro.Em 1942 declara guerra e em 1944 o Brasil manda expedições para a guerra, já com a Itália tomada pela Inglaterra e EUA o Brasil cumpre funções de suporte.
A volta dos soldados porém foi algo pouco marcante, Vargas desfaz as Frentes de Batalha ainda em território Italiano, da baixa nos soldados veteranos assim que pisam em solo brasileiro, se recusa a fazer parte da força de ocupação da Áustria, proíbe os soldados a utilizar as condecorações em público, ou seja, tirar deles qualquer brilho temendo que esta força (composta parcialmente por uma juventude próxima do partido comunista) poderia conquistar, temendo que isso se tornasse poder político. Claro, isso gera uma rachadura na cúpula militar de Vargas, que pressionado pelo alinhamento com o bloco da Aliança ( e por sua óbvia distância dos comunistas de Moscou) a uma estrutura mais liberal de Estado, ou seja, a abrir o país para eleições, é deposto em 1945 pelo próprio exército, que reabre uma república liberal.
BIBLIOGRAFIA
Fausto, Boris. Getúlio Vargas. Companhia Das Letras, 2006.
Hobsbawm, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. Editora Companhia das Letras, 1995.
PRODUÇÃO ÁUDIO VISUAL
Enigma: O Jogo da Imitação, dir. Morten Tyldum, 2014
Vá e Veja , de Elem Klimov,URSS, 1985
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