DIVISÃO CAPITALISTA DO TRABALHO | Freyssenet, Michel

Resumo: Freyssenet,Michel. DIVISÃO CAPITALISTA DO TRABALHO in HIRATA, Helena(org). DIVISÃO CAPITALISTA DO TRABALHO. Tempo soc.,  São Paulo ,  v. 1, n. 2, p. 73-103,  Dec.  1989





Analisaremos o texto de Michel Freyssenet para o dossiê de Hirata Helena sobre Divisão Capitalista do Trabalho, publicado em 1989 na revista Tempo do departamento de sociologia  da Universidade de São Paulo .

O texto possui o nome do próprio dossiê , 'Divisão Capitalista do trabalho' escrito por Michel Freyssenet (antigo diretor da Centre national de la recherche scientifique), de inicio o autor critica a forma como se falava da divisão do trabalho, como se fosse uma mera divisão de tarefas, mais ou menos concentradas. Para o autor a divisão do trabalho pode ser encarada como: 
"Processo social conflitivo, transformando a repartição social da inteligência requerida para uma produção dada, pela concentração para um numero restrito de trabalhadores do encargo de conceber instrumentos mecânicos, automatismos e modos operários, podendo substituir cada vez mais a atividade intelectual dos outros trabalhadores"


Neste sentido a qualificação dos trabalhadores (seu processo) se transforma com o tempo, se tornando um fato social, passível de estudo pela sociologia. Desta forma o método de analise da divisão do trabalho se esboça da seguinte maneira:

  • Quais problemas envolvidos para transformar um produto, para em seguida ver como se reparte a divisão social da resolução destes problemas. Tem de se levar em conta a concepção do maquinário e do que encorporam e analisar para além da fabrica onde se concentram as inteligências necessárias.

Em seguida o autor versa sobre o "Processo de desqualificação - superqualificação", para o autor ha um movimento contraditório de desqualificação do trabalho de alguns e superqualificação do trabalho de outros, uma polarização das qualificações requeridas, o que divide e organiza o trabalho e modificação a repartição da "inteligência" da produção- uma parte é incorporada ás ferramentas, outra parte é distribuída entre grande número de trabalhadores, graças à um número restrito destes que tem a tarefa (impossível) de pensar a totalidade do processo.




Porém, a Divisão Capitalista do Trabalho é expressão e instrumento de uma luta pelo poder concreto sobre a produção. A divisão do trabalho com a contradição  "desqualificação - superqualificação" são uma forma de de domínio concreto de uma classe sobre a produção, perceba, os trabalhadores em seu conjunto controlam/fazem toda a produção, então como os empresários fazem para manter este controle, restringem os saberes da produção à um grupo pequeno. Porém , na prática concreta os trabalhadores readquirem saberes e criam novos, reapropriando parcialmente a organização do trabalho- gerando uma contradição entre apropriação-desaproriação da inteligência de produção. Durante as crises de acumulação, a necessidade de reorganização da produção concentram ainda mais os saberes em grupos menores.

Tal controle do processo de produção passou por alguns estágios, o autor restabelece os três estágios descritos por K. Marx, para tentar demonstrar o mais recente, segundo o mesmo um quarto estágio:

a) A cooperação: O capital determina os bens a produzir, quantidade, qualidade e prazo ao passo que os trabalhadores conservam o controle sobre todo processo de de trabalho.

b) A Manufatura: Um trabalhador a serviço do capital, já assalariado conhece as fases sucessivas da produção e como organiza-las, enquanto os demais trabalhadores assalariados são trabalhadores de ofício.

c) O maquinismo: É a substituição de parte  da inteligência coletiva de produção pela sua materialização em maquinas que movimentam mecanicamente as ferramentas graças ao trabalho de um pequeno número de idealizadores. Isso tira quase por completo o controle da produção da mão dos trabalhadores, inserindo relações capitalistas em todo processo produtivo. Surgindo a figura do operário (aquele que opera a máquina) geralmente não qualificado, e em grande massa.

d) O automatismo: Inserido por Michel, neste o operário possui ainda menos saberes sobre o processo em si, ele não rege pequenas variáveis (como ritmo, manutenção, detalhes, etc), controles sob postura e ética são impostos, a intervenção humana é pontual. Os saberes superqualificados e os saberes anteriores desqualificados e enviados "para fora" do processo produtivo (em geral têm migrado para os serviços). A desqualificação-superqualificação se mostra mais forte neste ponto.

Vale ressaltar que a mudança de um processo ao outro é histórica e procesual, varia entre empresas, localidades e países. Resquicios e temporalidades de um podem restar em outro modelo, sem comprometer a analise. 

Por fim, o autor frisa a "forma social atual da automação" retomando uma série de estudos experimentais, frisa que não é uma forma acabada, que cria (diferente d pensa o senso comum) tarefas mais complexas e menos complexas, assim como cursos qualificantes específicos mais e menos complexos, que não refletem a qualificação real do trabalho, mas a sua concentração intelectual, trabalhos antes superqualificados, hoje são desqualificados e assim por diante. Por outro lado o processo têm aparecido em graus diferentes dentro até mesmo da mesma fabrica, tornando a analise ainda inicial e em movimento.


Referências: 






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