Marx e Engels: História e Economia Política. Aspectos gerais e considerações sobre um tema específico, relativo à Antiguidade Clássica: a circulação de mercadorias | CARDOSO, Ciro

Resenha: CARDOSO, Ciro Marx e Engels: História e Economia Política. Aspectos gerais e considerações sobre um tema específico, relativo à Antiguidade Clássica: a circulação de mercadorias.  





Ciro Flamarion Cardos (1942-2013) foi um um dos mais importantes e competentes historiadores brasileiros, tendo produzido uma obra, reconhecida internacionalmente, que se caracteriza pelo rigor, profundidade analítica e pela variedade de temas que vão da História da América à História Antiga e da Teoria da História a Epistemologia e a Semiótica. O profícuo historiador marxista igualmente encontrou ainda tempo para lecionar cursos de graduação, orientar pesquisas de pós-graduação, ministrar centenas de conferencias e se dedicar ao estudo da ficção cientifica. Nos anos 1980, produziu relevantes trabalhos sobre a escravidão no Brasil e na América Latina; num certo momento, travou aceso debate com o historiador marxista Jacob Gorender a respeito da questão da natureza e da historicidade da economia escravista no Brasil.


O autor iniciou seu texto  com subtítulo "Natureza “exterior” e sociedade humana: a historicidade da natureza humana"para teoria marxista não há uma natureza humana funada fora da sociedade e da história, o homem ao produzir sua vida produz a si mesmo, ao transformar esta produção transforma a si próprio. Ou seja, o debate anterior sobre uma natureza idealista d homem fundada em um ser natura estava superada, inclusive pelas descobertas da biologia e física. Porém, para o autor, vale pensar em uma espécie de natureza humana, altamente coletiva e que tende a avançar na racionalidade. Segundo Ciro, a natureza humana era plenamente biológica, o ser de carne e osso que respira, se alimenta e tem necessidades, é ele que existe. Sua natureza, pensando o oposto dos idealistas, se nega no estado de coisas. O ser social só se realiza em forma social, com o fim da partição de sociedade civil e Estado, com a emancipação. Ou seja, quando suas necessidade matérias forem também e prontamente saciadas. Desta forma, e paralelamente, a história humana e a história natural tem simultaneamente continuidades e rupturas, o ser humano faz parte da história natural e a história natural faz parte da história humana, mesmo a capacidade racional humana e sua produção (especialmente em modo capitalista) destruam a natureza, se separando dela, efetuando esta separação quase completa no capitalismo, saltando portando de uma [história natural] para outra [história humana].



E, numa das teses sobre Feuerbach, Marx escreve que a “essência humana” não é algo abstrato “inerente a cada indivíduo”: encarada “em sua realidade”, ela é idêntica ao “conjunto das relações sociais”
Desta tese, podemos tirar algumas afirmações sobre as sociedades antigas: 


"(1) falando de "todas as formas” das comunidades agrárias antigas, afirma que são “naturais em maior ou menor grau, mas todas ao mesmo tempo resultantes, também, do processo histórico” (minha ênfase);

 (2) tratando da emergência da propriedade privada nas condições da comunidade antiga, diz que “A comunidade (...) já é neste caso um produto histórico, não só de fato como, também, algo reconhecido como tal” (ênfase de Marx);

 (3) nas comunidades agrárias antigas, por um lado a relação do indivíduo, membro da comunidade, com a terra aparece como “um suposto de sua atividade, do mesmo modo que sua pele [e] seus órgãos dos sentidos”, por outro, o comportamento do indivíduo para com o solo “está igualmente mediado pela existência natural, em maior ou menor grau desenvolvida historicamente e modificada, do indivíduo como membro de uma comunidade, ou seja, por sua existência natural como membro de uma tribo, etc
.”



A segunda parte do texto o ator intitula "A concepção marxista da história: uma exposição sumária", o autor inicia o texto com uma crítica, certos autores querem pegar parte da concepção marxista de história e descartar outras, geralmente opondo Marx e Engels e não percebendo que são complementares. Algo deve ser posto na mesa, segundo o autor, o marxismo precisa do conceito evolucionista da história e tem em seu seio o progresso como grande característica, oque não descarta a possibilidade de diversas linhas evolutivas e de momentos de estagnação e retrocessos, superando a critica rasteira de um marxismo cego para aquilo que não evolui[especialmente desta concepção equivocada em relação á Engels]. Por mais que uma área geográfica não passe por todas as fases até o capitalismo, que toda teoria é infundada, apenas existem diversas linearidades históricas entre uma forma e outra de relações sociais, porém certas características entre as sociedades se mantém, como o exemplo que o autor expõe abaixo, apoiado em Gramsci e torcendo o método marxista em relação à conceitos como super-estrutura; infraestrutura; modo de produção; forças produtivas; etc:  


"No conjunto das sociedades pré-capitalistas, a dominação dos proprietários sobre os desprovidos de propriedade repousava sobre relações pessoais, sobre uma espécie de comunidade, enquanto, sob o capitalismo, tal dominação adquiriu uma forma material ao encarnar-se num terceiro termo, o dinheiro. Por tal motivo, as relações de produção não assumiam a forma de relações entre coisas, como no caso do capitalismo; pela mesma razão, a alienação, sob o pré-capitalismo, apresentava uma forma distinta, religiosa. Também as lutas de classes eram muito diferentes. Sob o capitalismo, enfrentam-se uma classe dominante e outra, explorada, ambas dotadas de consciência de classe (classes para si); na era pré-capitalista, dado o caráter pouco desenvolvido das forças produtivas e da divisão do trabalho, dadas em especial a economia maciçamente agrária, as condições em que se apresentavam a difusão das idéias e as limitações dos transportes e comunicações, somente as classes dominantes chegavam a atingir a coesão, a solidariedade de interesses e o grau de consciência que faziam, delas, classes plenamente constituídas, classes para si; as classes dominadas não passavam de classes em si, não podendo, por isso, formular uma alternativa à ordem vigente. Daí que as revoluções sociais pré-capitalistas se dessem mediante a substituição de uma minoria dominante por outra: a maioria (as classes exploradas) podia participar de tais revoluções, mas em última análise o fazia em proveito da minoria que passaria a dominar, a qual se apresentava, pelo menos durante determinado período, como representante de toda a sociedade."




por fim o autor termina com "Um exemplo de aplicação do marxismo em sua fase inicial a um tema relativo à economia antiga: a circulação de mercadorias na Antiguidade greco-romana em escritos de Marx e Engels", ele valoriza neste tomo apenas um exemplo, sem detalhes profundos, tentando mostrar está diferente economia política onde o valor de uso superava o valor de troca na Economia Política. Dado o mundo antigo à desenvolvimentos isolados  e distantes (os chamados “universos enclavados”)Marx pensava em desenvolvimentos sociedade antiga aparece caracterizada pela justaposição de momentos econômicos diversos, hierarquizada em sua disposição dos valores a partir do forte predomínio da atividade rural e do valor de uso. As sociedades em geral agrárias e os povos comerciais viviam separadas, em realidades justapostas, o povos comerciantes viviam nos interstícios, ou seja, de forma não integrada, se valendo inclusive deste isolamento e só existido mediante a produção agrícola (o capital comercial necessita do capital produtivo para existir). Outra característica da antiguidade é que o valor de uso predomina, porém ele não atua como modo unificador destas sociedades a produção e consumo estavam postos sob a marca da comunidade - esta natural ou espontânea. Ou seja, apesar de modificar parcialmente a produção, o valor de troca existente entre Gregos e Romanos estava posto ainda na marca de troca de excedentes; esta característica não podia durar para sempre, e a circulação começa a modificar a produção. A conversão embriônica entre valor de uso e valor de troca se inicia, porém a mercadoria universal (dinheiro) era apenas um meio de troca entre mercadorias [fazendo a conhecida formula Mercadoria-Dinheiro-Mercadoria] de transformar, via valor de troca, um valor de uso em outro. Em outras palavras, não existia item unificador na economia das economias pré-capitalistas.



Ao mesmo tempo, a sociedade Greco-romana trouxe avanços na separação e divisão do trabalho com relação às sociedades anteriores à ela: separação do trabalho do artesão e do comércio em relação ao agrícola além do aprofundamento das diferenças entre campo e cidade. Outra característica é o trabalho escravo deste período sendo este um trabalho compulsório imediato, uma ferramenta, à diferença do trabalho assalariado capitalista, que é trabalho compulsório mediatizado pela troca.

Este momento parece ser muito interessante trazermos de volta estas leituras para compreender melhor o passado.


Referências: 



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