Movimento operário e educação popular na primeira República | Paulo Ghiraldelli Jr

Resenha: Movimento operário e educação popular na primeira República | Paulo Ghiraldelli Jr

Prof. William Poiato



Foto do congresso de fundação do PCB- 1922


Paulo Ghiraldelli Jr possui graduação em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009), graduação em Educação Física pela Escola Superior de Educação Física de São Carlos (1978), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1995), mestrado em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1987), doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (2001) e doutorado em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1989). Conseguiu seu pós-doutorado em Medicina Social (Estudos em Subjetividade), com estudos em subjetividade, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Aposentou-se pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e atualmente é pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Americana (CEFA). Além de ser conhecido pelas suas diversas polêmicas.

O autor inicia o Texto com "As tendências do movimento operário na primeira república", o autor lembra como o período entre o fim do império e o inicio da república (1870 em diante) e os anos seguintes modificaram o país, tínhamos centros urbanos estabilizados, forças produtivas recentes e um movimento e massas mais ou menos estabelecido, com exemplo dos Republicanos. Durante a república (1889-1930) em si, assistimos o acirrar do imperialismo inglês e a partir de 1920 o imperialismo norte-americano se impondo. A classe operaria nasce e cresce no período, se em 1907 tínhamos 151,5 mil proletários em 1920 já eram 297 mil, com um número muito grande de estrangeiros, em 1900 quase 90% do operariado paulista era Europeu (81% italianos). A luta sindical surge com suas vanguardas:  socialistas, anarco-sindicalistas, anarquistas e comunistas; no seio do movimento existiam os "pelegos" insuflados pelo Igreja e Governo. Em 1906 acontece o 1° congresso Operário Brasileiro e os anarquistas tem hegemonia do processo, especialmente os libertários (anarco-sindicalistas), enquanto os grupos socialistas se aproximam de um reformismo em voga na época. Com a revolução russa de 1917 e os poucos frutos da greve geral do mesmo ano as ideias comunistas começam a se infiltrar no movimento operário, um grupo de anarco sindicalistas rompe e funda o PCB (Partido Comunista Brasileiro) em 1922, este toma hegemonia do movimento operário e culmina no BOC (Bloco Operário Camponês) uma frente de esquerda, com PCB à frente (Chegando a lançar o primeiro negro para candidato à presidência, Minervino de Oliveira).

Em seguida entra no tema do texto, educação popular, e nos traz "As propostas e realizações socialistas em educação popular", desde 1890 este grupo da atenção á educação, no RS existia o Partido operário do Rio Grande do Sul, lá se falava de um ensino público em toda república, sendo este integral, secular e profissionalizante. O POB (Partido Operário Brasileiro) no RJ, falava de melhorar o ensino e criar escolar teóricas e práticas aos filhos dos operários. Na prática, via sindicatos, mesmo com uma estrutura precária e inexperiência, este campo político consegue fundar escolas infantis e adultas, sendo um germe de uma "pedagogia socialista" no Brasil, são vários os exemplos, como a Escola Barnabé em Santos. A Pedagogia Socialista tinha três fundamentos, rigidez com a assiduidade dos estudantes, rigorosidade das avaliações e integração entre estudantes e professores, se valendo ainda de uma união de saberes científicos com a prática laboral, tinham ainda como linha política a disputa da verba pública com as escolas religiosas, nunca negando ajudas do Estado.

O segundo grupo é "Os libertários e o ensino racionalista", após a perda de influência dos socialistas pelos anarquistas, estes não defendiam um ensino público e gratuito, por serem contra a influência do Estado na educação, introduzem a ideia de educação Racionalista de Ferrer, eles fundaram uma iniciativa no RJ chamada "Universidade Popular" misturava cursos de higiene com erudição na filosofia, história e geografia, a falta de entrosamento entre professores e operários e problemas financeiros colocaram a iniciativa à perder em cinco meses ; a criação de inúmeros centros de estudos sociais, que eram grupos de estudos literários, geralmente noturnos e geralmente de autores anarquistas, buscava instruir os trabalhadores das ideias anarquistas; e ainda dezenas de Escolas Modernas de Ensino Racionalista. Esta ultima deu maiores frutos e disputas, a igreja católica atacou duramente estes estabelecimentos, assim como a repressão, que no período grevista entre 1917 e 1919 começa a reprimir os anarquistas e refletir isso nos colégios, em 1919 um atentado mata 04 anarquistas, o governo diz que este ataque visava virar a população contra o Estado e coloca os anarquistas na ilegalidade, junto de seus colégios em São Paulo. Isso gera indignação até mesmo em ministros da época que argumentavam ser uma atitude inconstitucional, a experiência da escola moderna ocorreu mais ou menos entre 1906-1919 concentrados no eixo RJ-SP, mas marcaram a pedagoga brasileira.

Com a perda da hegemonia dos anarco-sindicalistas ao PCB, dentro do movimento operário, a perspectiva comunista começa a se por, este trecho o autor chama de "A questão educacional e os Comunistas", surge o debate da escola unitária, ou seja, união do ensino com o trabalho produtivo,  aos moldes de Lenin na URSS. Além disso surge a ideia da administração escolar se descolar da hierarquia sempre instituída e partir agora da participação dos trabalhadores, algo bastante inovador em qualquer sentido no Brasil de 1922. Não era mais o ensino público, laico e gratuito apenas (pois este ainda segregava classes) mas a escola unitária que congregaria odos os jovens em um mesmo tipo de escola; assim como não seria mais apenas uma educação técnica-profissional, mas a apropriação de todos do processo produtivo, ou seja unir o ensino com o próprio processo de produção. Outra defesa dos comunistas foi romper a ideia do professor como um "abnegado das coisas materiais", alguém que trabalha por amor e pela sua missão (concepção que permeava desde a igreja católica, os anarquistas e os socialistas), e construir o professor como assalariado comum e uma correlação direta entre a qualidade de ensino e salário dos profissionais de educação. Os comunistas, entre estes se destaca Otávio Brandão, entendiam que o partido não precisava criar uma frente de educação, mas que a própria atividade partidária era educacional, que a missão e a pratica do partido era de educação das massas operárias, realizava cursos e palestras voltadas à politização, estando dentro ou fora da legalidade. Na plataforma posterior do BOC temos uma visão global de educação onde estudante deve ter uma vida mais ou menos confortável para estudar (transporte, alimentação, material), briga por mais escolas e equipamentos como bibliotecas operárias, além de novamente reivindicar o aumento salarial dos professores. A recusa de criar institutos próprio de educação manteve uma certa hegemonia no debate pedagógico entre anarquistas, socialistas, conservadores e católicos, tendo os três últimos forte influência até hoje no debate educacional.

De certa forma o autor nos leva à uma leitura da educação no seio do movimento operário na primeira república, tendo em vista as três práticas e hegemonias neste processo, abrindo espaço para resgate destas experiências e para crítica, ainda por cima galgado em documentação dos jornais operários da época. Haja vista as limitações do autor, percebemos a importância e o poder progressivo destas tendências na educação brasileira.

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