Meio ambiente e o bairro



Meio ambiente e o bairro

Prof William Poiato 

Este pequeno texto visa continuar o debate do texto "O meio ambiente: uma questão do séc. XXI"





“O bairro é composto por casas suficiente próximas para que se estabeleçam contatos sociais entre

os moradores [...]certa unidade entre grupos vizinhos”[1]


A frase acima carrega a definição mais clássica sobre o que seria um bairro, para além dos laços que esta "certa unidade" pode vir a querer ser entendido, estamos dispostos a não considera-los sociologicamente, mas sim fisicamente- pelas construções.


Já natureza constatamos ser ao mesmo tempo: um termo dado da realidade, ao passo que analisado e usado pelo homem é também um ente social. Podemos dizer que a natureza é dialeticamente, um ser externo ao ser humano ao qual ele adquire controle lentamente, inventariando e a tornado (parcialmente) um recurso a partir de um mediador, entre o homem e a natureza, o trabalho[2]. O ser humano, a partir do trabalho, interage com o ambiente, transformando-o e transformando a si mesmo, até mesmo para transformar-se em espécie foi assim[3][4].

O terceiro conceito que será friccionado aqui é o de "meio ambiente" tem uma ligação intima com a natureza, porém não é a mesma coisa. O meio ambiente costuma ter a mesma definição de geossistema, é a soma do "potencial ecológico" (capacidade de um espaço possuir vida); "exploração biológica" ( como os seres vivos retiram energia deste ambiente e sobrevivem- transformam ele) e a ação antrópica (ação humana) [5] .Ou seja, na própria definição de meio-ambiente subentende-se a ação humana, como fator negativo provavelmente, mas presente na análise. Ou seja, a transformação da natureza é um item corrente do meio ambiente (isto esta escondido em sua própria definição), se transforma a natureza, mas não se destrói o meio ambiente enquanto estes três fatores continuarem ativos no ambiente- a categoria também pode ser utilizada para avaliar os três fatores com relação a uma única espécie ou um grupo de espécies ex. meio-ambiente da borboleta[6].




Postos a mesa os três conceitos devemos nos perguntar: Como pensar o meio ambiente de um bairro urbano?


É possível aplicar o conceito de meio ambiente ao próprio ser humano, "qual seu meio ambiente?". Entre as várias respostas o meio urbano estará presente, sendo este um habitat, logo um meio ambiente da humanidade.


Pensando neste caminho podemos pensar o meio ambiente urbano enquanto um habitat socialmente criado, com toda a natureza a sua volta humanizada[7], ou seja, um ambiente onde o mediador trabalho tem grande papel na análise, perdendo uma carga meramente negativa e avaliando 'oque, por que, como' ele produz o ambiente. Ao avaliar o meio ambiente humano devemos ter - a primeira vista- o bem estar da própria espécie humana, enquanto coletivo.

Por isso, ao analisar o meio ambiente urbano nos preocupamos com eixos como[8]: 

a) Moradia: Há para todos? Todos estão em uma? Qual a qualidade da moradia? E sua segurança de propriedade? etc...


b) Saneamento básico: Existe saneamento básico nesta região? Qual seu método? Qual sua forma? Quem administra? Como administra? etc..

c) Saneamento ambiental: Como esta o ar? Como esta a água? Como se abastece água nesta região? Qualidade da água? Para onde vai o lixo desta região? Quem administra todos estes fatores? E os resíduos sólidos? etc...



Devemos fazer um segundo movimento, avaliar todas estar formas locais, com a forma geral e verificar os efeitos destas estruturas em um "meio ambiente global", ou seja, fazendo o movimento do local ao global e do global ao local, colocando três aspectos em evidência[9]:


a) A técnica: A técnica aplicado ao espaço local e global e sua interação com a natureza (infraestruturas, tecnologias, etc)


b) O espaço: Onde estas técnicas e em qual momento são aplicadas e como são aplicadas

c) Tempo: Momento histórico e simultaneamente cotidiano das pessoas que neste meio-ambiente sobrevivem. Tempos longos e tempos curtos [10].

Neste momento fica claro que as propostas de se negativar o trabalho, per si, no processo de construção e compreensão do meio ambiente perde sentido, mas que ganha força as análises de como e com qual finalidade este trabalho foi realizado, a análise do 'modo de produção'[11], enraizando na análise a demonstração das relações de propriedade e construção (ou destruição do ambiente).

Logo, para se pensar a relação entre o meio ambiente e o bairro devemos observar as infraestruturas, seus usos e como a comunidade se utiliza delas. Devemos, ainda, analisar isso associados a análise global, -qual a intensidade e positividade (ou negatividade) das ações neste bairro no ambiente (conforto humano) e no ambiente das demais espécies- e história- levando em consideração o modo de produção envolvido, a forma como se formaram aquelas estruturas e o cotidianos (os tempos longos e curtos).

Referencias:

[1]FERNANDES, Liliana Laganá. Bairro Rural dos Pires: Estudo de Geografia Humana.Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia Ciências e letras- USP, São Paulo-SP-1967.

[2]SPRINGER, Kalina Salaib. A concepção de natureza na geografia. Mercator- Revista de Geografia da UFC 9.18, 2010 P.159-170

[3]CASSETI, Valter. Ambiente e apropriação do relevo. Editora Contexto, 1991.

[4] ENGELS, Friedrich. "O papel do trabalho na transformação do macaco em homem." Global, 1990.

[5]NASCIMENTO, Flavio Rodrigues do & SAMPAIO, José Levi Furtado – Geografia Fisica, geosssistemas e estudos integrados da paisagem- revista da casa da geografia de Sobral,Sobral, v 6/7, n°1, p 167-179, 2005

[6]DULLEY, Richard Domingues. Noção de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos ambientais e recursos naturais. Agricultura em São Paulo, São Paulo, 2004, 51.2: 15-26.

[7]JACOBI, Pedro Roberto. Do centro à periferia- meio ambiente e cotidiano na cidade de São Paulo. Ambiente & Sociedade, v. 6, n. 7, p. 145-162, 2000.

[8] JACOBI, Pedro Roberto. Cidade e meio ambiente: percepções e práticas em São Paulo. Annablume, 1999.


[10]BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. Editora Perspectiva: São Paulo, 1978

[11] DE OLIVEIRA, Ana Maria Soares. Relação homem/natureza no modo de produção capitalista. Revista Pegada, v. 3, 2002

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