Resumo | NELSON WERNECK SODRÉ E A VISÃO DE BRASIL

 NELSON WERNECK SODRÉ E A VISÃO DE BRASIL: UMOLHAR SOBRE A FORMAÇÃO TERRITORIAL BRASILEIRA | Marco Túlio MARTINS e  Rita de Cássia MARTINS DE SOUZA




Iremos resumir brevemente o Texto de Marco Túlio Martins doutor em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia com ênfase em Geografia Política, Planejamento e Ordenamento Territorial e História do Pensamento Geográfico e atualmente atualmente é professor da Universidade Estadual de Goiás - Campus Pires do Rio. A outra Autora é Rita de Cassia Martins de Sousa  doutora  em Geografia (Organizacao do Espaco) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é Professora  da Universidade Federal de Uberlândia.

Antes de começar, leia uma breve biografia de Nelson Werneck Sodré!

Os autores iniciam analisando "o
s três livros: esforço de compreensão do Brasil" que são base para este estudo, marcadamente : Panorama do Segundo Império (1939), Oeste: ensaio sobre a grande propriedade pastoril (1941) e Formação da Sociedade brasileira(1944). Estes se colocam na quadra histórica do Estado novo e observam o processo de industrialização brasileira.

O livro 
Panorama do Segundo Império (1939) é um avanço na analise do segundo reinado, haja vista que não se limitou a mera descrição dos eventos, buscou interpreta-los em sete panoramas, por exemplo no primeiro insere a sociedade capitalista no capitalismo global e debate sua singularidade geográfica. Pensava também a dominação no campo pautando sua analise no latifúndio.

O segundo livro 
 "Oeste: ensaio sobre a grandepropriedade pastoril (1941)" analisando o que hoje seria o Mato Grosso, participando de atividades militares descreve o "o processo de colonização pastoril do sertão de além-Paraná" mas também a necessidade de uma política de integração nacional. Vê na atividade pastoril, apesar de atacada pela colônia e império, diante da impossibilidade de fiscalização, uma forma de integração nacional no sertão.  O caminho seria, portanto integrar a região com Linha Férrea e presença estatal, ampliando sua identidade nacional e a integração territorial. Chega a ser elogiada por Pierre Monbeig que o convida para Associação de Geógrafos do Brasil (AGB).

O terceiro livro "Formação da Sociedade Brasileira (1944)"; livro mais preciso e com perspectiva marxista. Se preocupa com o "processo produtivo vivenciado pela Colônia e, posteriormente, pelo Império e pela República" e têm um "processo complexo da produção econômica vinculada ao território.". Ou seja, o território e o centro da analise.

Destas obras, os autores buscam entender a "
Formação territorial do Brasil: o olhar de Nelson Werneck Sodré". Vale iniciar falando que Sodré não era mero estudioso, ele se preocupava com a prática e suas reflexões são para a ação social no Brasil, na época- ou seja refletem um projeto de Brasil. 

Avançam pensando o  "
Panorama do Segundo Império: Nacionalismo e Unidade Nacional" o momento é visto como o momento de construção da identidade nacional. A partir dos panoramas ele tenta explicar os processos de formação territoriais brasileiras, dando amplitude, saltando da fracionalidade à totalidade. O território usado ou a formação territorial (ou seja: o território em transformação) se apresentam como no primeiro período com o terras divorciadas, há pela dominação de terras em extensões imensas (latifúndios) e o próprio isolamento do distrito federal causou províncias separadas, "o problema da separação entre as províncias seria a distancia, entretanto, a língua e a fé as uniriam." este seria o medievalismo da sociedade brasileira expresso pela colonização. 

Em seguida no "Panorama da Escravidão", o autor discorre sobre a importância que o escravismo teve na formação territorial brasileira. explica que o trabalho escravo incutiu e influenciou toda sociedade brasileira, assim como certa africanidade, na cultura e nos modos do trabalho, nos mitos e na politica, e até mesmo após a libertação em elementos servis que propiciaram o progresso material da terra.

A terceira analise é sobre o "Panorama Político", aprofundando a analise que demonstra uma dificuldade de integração nacional por D. Pedro II, mas este investe em ferrovia, navegação telégrafos e formas de comunicação, visando esta integração. Acentuado as "crises revolucionárias". Um ponto importante para Sodré é a não homogeneidade do Brasil, ou melhor, um Brasil formado por diversas regiões necessariamente diferentes de difícil centralidade.

Em seguida ele trás o "Panorama Parlamentar", pensa a gradual mudança das elites agrarias para urbanas e a tentativa destas de uma erudição próxima da nobreza brasileira, destaca a figura histórica do Barão de Mauá, fruto de seu meio histórico. Isso se sustenta sobre o "Panorama econômico" onde a cultura do Café no séc. XIX permitia esta elite urbana à se levantar ao mesmo tempo que impedia a manutenção de outras culturas no território, ao passo que permitia certa centralização.

Seguimos com o "Panorama da centralização", uma contradição impera nesta questão, a centralização procurada pelo segundo reinado gerou, em contrapartida, a ampliação da ideia de separação regional, dado o caráter do Brasil. Isso chegaria ao "No Panorama do Ocaso" ou seja, a decadência imperial, justamente pela centralização se resolve (em contradição) com o movimento centralizador máximo do exercito e o surgimento da república, que ao mesmo tempo coroa o enfraquecimento oligárquico, como o reabilita.

Voltando para outra obra os autores refletem sobre "Oeste: O discurso da Unidade territorial via Estado", identidade nacional e integridade territorial se aproximam neste ponto em Sodré, ao analisar o Oeste Brasileiro, pensa que a integração férrea somada ao desenvolvimento de um capitalismo nacional (interno) garantiriam este processo (como Vargas colocaria em pauta), sob influencia de Oliveira Vianna e a visão necessariamente nacionalista, pensa em um desenvolvimento via Estado, até para dar fim aos conflitos regionais ante a centralidade estatal, enquadrando toda região no processo de progresso e modernização (feitos de forma conservadora por Vargas). Quebrar o nomadismo pastoril e integrar Campo Grande era uma necessidade concreta para Sodré, a região também, via linha férrea, tem potencial de integrar toda sulamérica, ampliando a importância brasileira. Ao pensar a Amazônia, a propõe como uma faixa, a região apresentou um surto de desenvolvimento econômico transitório durante a extração de borracha e deveria ser interligada com o Oeste, ligando-se assim ao centro-Sul, polo econômico. 

Os autores retomam a analisar o pensamento de Sodré em  "Formação da Sociedade Brasileira: Um esforço de interpretação do Brasil", pensando a herança luso-brasileira, como o latifúndio que desenvolve e distribui pouco a riqueza e o uso de mão de obra escrava, hora indígena, hora africana o extrativismo e a cultura de cana-de-açúcar, formando um patriarcalismo rural, isolando as áreas brasileiras. Pesam que Sodré é importante para a construção de uma própria noção de Brasil e mais, um projeto de Brasil. Pensa um Brasil formado por elites locais isoladas, com poderes decentralizados e agindo sob este território no séc XVI e XVII. No XVIII o elemento o outro interiorano permitiu a integração de outros territórios somado  á urbanização integrando parte do território, o exercito teve papel no processo, o próprio Estado precisa ampliar sua maquina para vigiar a extração de ouro. Ao mesmo tempo, o espirito do patriarcalismo rural e isolacionismo não diminui, pelo contrario, pelo auge do ouro aumenta e as revoltas e rebeliões regenciais (já no império) não logram sucesso, especialmente pois a economia escravista sobrevivia sob uma tênue linha que necessitava da integração (seja para o trafico seja para conter uma resposta dos escravos). O Império ao vencer mantém a unidade reforçando as diferenças e poderes regionais (contraditoriamente buscando a centralização). O café do séc. XIX movimenta o centro de poder da cana de açúcar do nordeste para os cafezais do centro-sul, isso associado à derrota do império ante a república, gera uma brusca descentralização, ante a impossibilidade de industrialização de outras regiões (pela falta de capitais locais), formando ilhas de produção no centro-sul. Com isso, segundo Sodré, a desintegração nacional auxiliariam que a crise de 29' avassalasse a economia nacional e abrisse espaços para a quebra institucional.

Uma critica que pode ser feita aos autores é a paridade política dada entre  Sodré, Travassos, Golbery de Couto e Silva etc. buscando parear o projeto de modernização conservadora com o projeto do   comunista, buscando igualdade entre o Projeto de Desenvolvimento Nacional de Vargas e a Revolução Nacional Libertadora do PCB, o segundo perseguido pelo primeiro. Ter em mente a industrialização paralela à integração nacional e desenvolvimento econômico não tornam estes projetos gêmeos, são apenas paridos da mesma mãe, a modernidade.  Como Marx disse certa vez nos Grundisse, o segredo esta na forma, qual a forma (de Estado-Nação-povo) de um e outro? 


Referências: 

MARTINS, Marco Túlio; DE SOUZA, Rita de Cássia Martins. NELSON WERNECK SODRÉ E A VISÃO DE BRASIL: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO TERRITORIAL BRASILEIRA. Geografia em Questão, v. 6, n. 2.

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