Entre Ratzel e Mackinder


Entre Ratzel e Mackinder

Prof. William Poiato 


Introdução:



Este breve trabalho tem como objetivo demonstrar às proximidades e diferenças destes dois autores tão caros a base teórica da dita ‘geopolítica’. Faremos esta analise a partir de dois textos, o primeiro um texto clássico de Ratzel, primeiro capitulo de seu livro “A relação entre o homem e o Estado”, intitulado “O Estado como organismo ligado ao solo”. O segundo texto de nossa observação será de Mackinder com o seguinte titulo “O pivô geográfico da história”. Ambos os textos foram publicadas na revista “GEOUSP” numero 29 no ano de 2011.

Desenvolvimento:




Devemos iniciar nossa analise pelo texto de Ratzel, até mesmo pela cronologia de publicação e pelo seu papel na fundação da geografia, professor alemão funda em meio ao séc. XIX a geografia enquanto disciplina acadêmica. Seu método, que parte do positivismo lógico, tenta sobrepor as questões e axiomas da biogeografia para as questões sociais, e propunha desta forma uma leitura de mundo voltada a esta lógica.

No texto que estamos avaliando o autor levanta treze pontos para demonstrar que o Estado é um organismo ligado ao solo. O primeiro fala de seu principal conceito, o “Espaço Vital”, assim como os animais possuem um espaço mínimo para a sua sobreviveria o Estado/sociedade (analisados como uma coisa única) também necessitariam de um espaço, a ligação entre os Estado e o espaço neste caso é de causa e efeito, ou seja, direta. O ecúmeno, o luar onde o homem vive, é expansível e suas fronteiras são hostis ao homem, neste meio forma-se o Estado. Seu segundo axioma diz algo como: “O Estado é uma fração da humanidade e uma fração do solo”, ou seja, o Estado é uma parte do solo que uma sociedade ‘escolheu’, o povo é então ligado por um solo comum, mas se unem em um solo que lhe seja conveniente. Em seguida a argumentação do autor se volta para a ideia de civilização, ele argumenta que quanto mais uma sociedade se organiza formalmente sobre um solo mais esta próxima de ser uma civilização, não atoa “O Estado fixa as pessoas sobre o solo e as pessoas fixam o Estado no solo”. Esta injunção deve ser mantida pelo povo que perceber-se como coisa única, “O Estado deve ser imbuído de uma ideia politica orgânica”. Nestes pontos o autor retoma as suas questões naturalistas, tirando que solos férteis dão origens a bons Estados, mesmo que o povo d’aquela região se transforme ou mude. Seu sexto axioma é um estranha volta ao idealismo, falando que o Estado não é, portanto, um todo, mas o que deve mantê-lo unido é o ‘espírito’ (marcas de Hegel aqui), tal unidade é o próprio solo, enquanto o espírito é nasce do habito de convivência, este habito dilui o indivíduo diante do Estado, para ele somente os grupos o compõem, sendo a família o grupo fundamental. Mesmo a família sendo fundamental cabe ao estado criar os órgãos que fazem parte deste grande corpo do Estado (e não aos grupos), dentre estes o Estado deve eleger os mais importantes e estes órgãos se limitam ao solo do Estado (não vem de fora). Em seu décimo segundo axioma, Ratzel demonstra que o sinal de um Estado bem sucedido é que sua economia também deve comportar-se como um organismo.

Esta longa conceitualização surge e um momento que o Estado alemão estava por nascer a partir da Prússia, seu texto vem como uma justificativa para as políticas expansionistas que se sucederiam o primeiro, segundo e quinto axiomas são a marca da visão de mundo do militarismo alemão. A nação deve possuir um espaço vital para o seu desenvolvimento, espaço este que o território alemão não comportava, o espaço vital vem de uma nação que se une sobre um solo que lhe seja conveniente (ou seja, o pensamento da nação deve voltar-se pra si, desconsiderando as demais) nestes contextos os bons solos se tornarão bons Estado, mesmo com outros povos sobre ele, isso abre alas para o desejo de tomada de novos territórios para alcançar o espaço vital desejado pela nação (que como diz o quarto axioma, deve ter um pensamento político orgânico), e dominar os bons solos que lhe sejam convenientes para que dali surja uma nação melhor com outro povo, o povo da nação dominante.



O texto de Mackinder por sua vez segue outro caminho, o inglês publica seu texto já no século XX, com titulo “geografia o pivô da história”. Para o autor vivemos na área pós-colombina, ou seja, para ele durante o século XX se vivia em um modo completamente novo, onde a exploração de novas terras ( e sua descoberta) estava encerrada, o mundo era conhecido e os Estados nações deveriam se assentar. Em suas palavras viveríamos neste século em um novo sistema político global, desta vez fechado como uma sala bem alicerçada, pois a expectativa de novas terras havia se findado e agora os Estado teriam de se ‘espremer’ neste mundo , potencialmente menor que antes. Neste ponto o autor demonstra seu interesse teórico, agora que os fatores geográficos do mundo estavam a mesa, seria possível criar uma teoria “da causalidade geográfica sobre a história universal”, esta formula iria analisar as forças competidoras no mundo (os Estado nações), pensando as características geográficas (naturais) que tiveram força coercitiva sobre este jogo. A partir dai o autor inicia uma importante avaliação geográfica da ocupação histórica da Rússia e outros países europeus, o quanto os meios geográficos influenciaram a ocupação da região (sua sedimentação e formação das nações) e o quanto as técnicas auxiliaram nesta apropriação. E tem uma interessante teoria sobre a história de a Europa estar condicionada a história asiática e que isso foi especializando os povos e demonstra que nesta batalha territorial sempre dois grupos figuraram em destaque, aqueles que possuíam o poder terrestre e aqueles que possuíam o poder marítimo pois exerciam poder em áreas pivô. Por sua vez ele percebe algo mais, uma centralidade, do centro da Eurasia (Europa) , a Alemanha, etc. São regiões pivô de todas as regiões, ele denominou de “Heartland”, pontos de poder essenciais para a dominação de toda a região.

A teoria de Mackinder estava a serviço do império inglês e procurava por diversas formar compreender o ‘jogo’ da política internacional para auxiliar na tomada de decisões do Estado, neste sentido as observações de Mackinder tentam se colocar no campo de ‘realpolitik’, neste texto em especifico demonstra como a chave de poder esta na eurásia em nível territorial, porém em nível marítimo esta em solo inglês este poder – que é segundo sua reminiscência histórica- aquele que tende a prevalecer.








Conclusão: 

A analise dos dois autores nos levam a encontrar semelhanças importantes entre seus pensamentos, se Ratzel pensa a nação a partir do solo, Mackinder ira analisar este solo para a formulação da nação, de certa forma estas ideias estão bem próximas se feito de outra maneira poderia se pensar que um texto seria a aplicação da teoria do outro . Porém existem diferenças de método entre as duas avaliações.

A primeira diferença expressiva é o caráter de cada texto, se o primeiro é mais teórico e se pensa enquanto um grupo de axiomas que prescinde da história, o segundo é um texto que tem na história a sua execução. De certa forma se um se pretende teórico o segundo se pensa prático.

A segunda diferença é a forma com a qual se pensa o Estado, se o alemão tem em seu método o método o desejo transpassar as questões da biogeografia para a comunidade da nação, ou seja, um anseio positivista de alargar estas concepções básicas das ciências naturais às ciências humanas. O inglês tenta por sua vez criar novos conceitos, ou seja, ele não pega conceitos naturais e transpassa ao social, ele analisa a influencia do natural no social.

Estas proximidades e diferenças se incorporam nos dois conceitos que eternizaram os autores, o “Espaço vital” e o “Heartland”. Se o Espaço vital é o solo necessário para uma nação sobreviver, enquanto um organismo endógeno – expansível ou não- que determina a qualidade da nação. O Heartland pensa um polo de poder, o coração da terra, de onde se emana a defesa e o poder geopolítico (emanado na eurasia) nascido das condições naturais. Se um conceito existe “a priori” das analises espaciais o segundo só existe “a posteriori” da analise do espaço.

Não atoa temos de pensar estes autores de forma integrada, aqueles que consideravam as questões naturais mais relevantes que as questões sociais para sobredeterminar a sociedade, ao passo que percebamos também suas diferenças de métodos e objetivos.

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